quinta-feira, 2 de novembro de 2006
Morrer de amores pelo Pico [3]
Ao terceiro andamento, a personagem principal vai ser o Museu dos Baleeiros
(continuação) Nos dias de hoje, a divisão administrativa da ilha mantêm os três concelhos, com dezassete freguesias. Calheta de Nesquim, Lajes do Pico, Piedade, Ribeiras, Ribeirinha e S. João, nas Lajes; Bandeiras, Candelária, Criação Velha, Madalena, S. Caetano e S. Mateus, na Madalena; Prainha, S. Roque do Pico, Santa Lúzia, S. Amaro e S. António, em S. Roque.
Quarenta minutos e vários quilómetros depois chegámos à Almagreira, lugar onde vamos residir nestas férias. Deslumbrante. Uma antiga adega recuperada, toda em pedra basaltica, com o Atlântico e a vila das Lajes bem por perto, plantada à sombra da imponente montanha do Pico, com os seus 2.351 metros, hoje, totalmente descoberta, sem o seu habitual anel nebuloso, convidando para uma escalada que não vai tardar.
Algumas horas de descanso, numa noite bem tranquila, onde o leve soprar do vento, misturado com o cantar das cagarras, permitiu-nos ganhar energias para os dias “cheios” que se seguem. Começamos pela descoberta da vila lajense e o seu Museu dos Baleeiros, o ex-libris desta localidade. Falar do Museu dos Baleeiros é mergulhar numa parte importante da essência cultural profunda desta ilha. Citando Vitorino Nemésio: “Como as sereias, temos uma dupla natureza: somos de carne e de pedra. Os nossos ossos mergulham no mar.”
A baleação nos Açores remonta a meados do séc. XIX, altura em que se iniciaram as primeiras tentativas de introdução de caça artesanal (com arpão e lança), de forma sedentária, a partir de pequenos portos. A baleação é um fenómeno açoriano, mas foi no Pico que atingiu a sua maior expressão. Nas Lajes, vulgarmente denominada “Vila Baleeira dos Açores”, o sonho e a tenacidade de alguns, tornaram possível a construção do Museu, inaugurado em Agosto de 1988.
Para além de um vasto espólio sobre a temática baleeira, o referido Museu possui um pequeno auditório onde se podem visionar filmes relacionados com aquela actividade e uma biblioteca-arquivo com diversa bibliografia e documentação, fundamentais para o estudo da baleação. O Museu dos Baleeiros sabe a mar e a epopeia. Um espaço dominado pela emoção e pela paixão. Despojado, sóbrio, autêntico, é, como realidade museológica, uma homenagem silenciosa a todos os baleeiros açorianos. Nas palavras do poeta Almeida Firmino, “Heróis sem nome com um pé em terra e outro no mar”.
Associada à actividade baleeira, nasce o scrim shaw, decorrente da gravação em dente de osso de baleia, de que resultam produtos muito valiosos tendo em conta a matéria prima utilizada, o marfim, a que se junta uma mais valia resultante da capacidade artística dos seus criadores, que, de uma forma brilhante, procuram eternizar as vivências e memórias dos seus antepassados. O génio que construiu os botes baleeiros permanece na construção de delicados modelos à escala, que reproduzem ao mais ínfimo pormenor as canoas em tamanho real. Alguns destes modelos são constituídos em osso mandíbular do cachalote.
Dentro do Museu podemos também encontrar a divulgação de outra manifestação de muito interesse, que está a alcançar prestígio, tanto a nível nacional como no estrangeiro. É a "Semana dos Baleeiros”, que se realiza na vila das Lajes, no mês de Agosto, integrada na Festa de Nossa Senhora de Lourdes, anualmente celebrada na última semana daquele mês, a quem os baleeiros suplicavam a sua protecção. É um acontecimento com grande tradição, pois esta solenidade data de l883.(continua)
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