Chegámos ao quarto movimento. Os baleeiros, vão aparecer, estar na primeira pessoa, agora e depois...
(continuação) Depois desta visita apaixonante ao Museu, sentimos necessidade de saber mais sobre esta arte. Nada melhor que o Dr. Francisco Medeiros, Director do Museu dos Baleeiros, para nos falar mais sobre mais de um século de luta entre homem e animal «uma das coisas que me provoca espanto é o facto de nunca se ter inovado na utilização dos utensílios da caça.
Em 1850 apanhavam-se baleias com lança e arpão tradicionais e artesanais. Em 1987 apanhou-se a última baleia exactamente com arpão e uma lança.É difícil dar uma explicação satisfatória e conclusiva a este meu espanto. Neste momento acredito um pouco que isto tenha a ver com uma característica da actividade baleeira... ao facto da actividade baleeira não se resumir unicamente ao aspecto económico. Em associação aos aspectos económicos deverá haver, concerteza, outros aspectos que terão forçado ou incrementada essa resistência à inovação.
Eu penso que associado à actividade baleeira há de facto um domínio cultural fundamental, há uma ética baleeira, uma forma de ser, de exercer a caça — uma arte, porque não? — que implicava a resistência à inovação. Um baleeiro é um homem que enfrenta o maior animal da terra, cara-a-cara com uma lança e um arpão. Nunca quis enfrentar um cachalote com um canhão, com um "Bomblance". Na legislação, nos regulamentos da baleação, chegou inclusive a constar como elemento da palamenta o "Bomblance"... e houve um ou outro caso em que se experimentou a posição do "Bomblance" que, como diziam os baleeiros, sempre foi uma arma que nunca foi bem aceite e que sempre foi rejeitada e acabou por desaparecer... ficava na "casa dos botes", arrumada e não era utilizada». Olhos nos olhos — baleias e baleeiros... sem artifícios para mortandades comerciais «um jovem para ser integrado na sociedade tinha de ser baleeiro. Uma forma de ser alguém. Ser um membro activo».
Morrem os baleeiros mas fica a sua cultura, a sua ética, os seus rituais, a sua mentalidade. A curiosidade é assim: quanto mais sabemos mais queremos saber. Olhamos um para o outro e para podermos chegar mais longe, para podermos chegar ao mar, tínhamos que ouvir as histórias dos baleeiros, na primeira pessoa. Luís de Sousa, antigo baleeiro de São Mateus foi o nosso contador de histórias «às oito da manhã os vigias estavam a postos. Quando se avistava a baleia comunicava-se com o porto e logo o foguete de seis bombas era lançado. Os homens, que pescavam junto à zona, corriam para terra, as nossas mulheres já estavam no porto com a saquinha da comida para a gente levar». (continua)
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