quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Morrer de amores pelo Pico [6]

Bem perto de dois cachalotes Outros tempos, outras realidades, sempre a mesma inspiração. A observação dos adversários e a homenagem aos que com eles lutaram.

(continuação) Numa nova atitude perante a Natureza, a caça artesanal à baleia foi substituída pela observação, estudo e investigação dos cetáceos que cruzam o mar dos Açores, geralmente acompanhada de uma acção pedagógica sobre a vida e hábitos destes animais que os visitantes se propõem observar, a par de alguns conselhos e comportamentos recomendados nestas incursões ao mar. Em redor do Pico vêem-se, com frequência, algumas das vinte e uma espécies de cetáceos que rumam aos Açores, nomeadamente o Cachalote, o Golfinho comum, o Golfinho riscado, o Moleiro e a Baleia piloto. O encontro com estes animais, a poucas milhas da costa é uma experiência única, onde a admiração se mistura com a curiosidade, possibilitando registos, nas mais diversas películas, ou simplesmente na nossa memória, de rara beleza e encanto. Presos pela mesma magia de outrora, os homens prescindiram da aventura da caça de baleias para se tornarem caçadores de imagens e de novos conhecimentos.
Em 2001, para assinalar a passagem dos 500 anos da criação do Município, a Vila das Lajes concebeu uma homenagem aos protagonistas da centenária saga baleeira: um monumento da autoria do escultor Pedro Cabrita Reis, colocado no porto a desafiar o oceano. Nessa data, Cabrita Reis escreveu um breve texto que fala da sua obra e do modo como ela procurou, em termos estéticos, corresponder a uma representação da saga baleeira.
«Uma obra deve perdurar no tempo, atravessando as diversas conjunturas temporais, sem se tornar anacrónica. Para isso, deverá ter uma forte carga simbólica, em vez de se limitar apenas a tentar, imitar a realidade. A sociedade transforma-se por via das interrogações que a cada momento se colocam, as mentalidades enriquecem-se e criam uma consciência nova. Apesar de tudo não podemos ignorar o que fizemos, e a história das Lajes do Pico é inevitavelmente feita também pelos baleeiros.
Uma comunidade responsável deve viver em paz com a sua história. Para marcar a lembrança do seu passado construi-se um monumento que transmite para o futuro algo que faz parte de si próprio. É essa a intenção de um Monumento à Baleação.
Do homem interessa-nos o seu engenho, a sua capacidade de edificar. Do mar e da baleia, um todo aqui simbolizado pela curva desenhada ao longo do monumento. No branco luz, a memória da espuma das ondas. E os nomes dos baleeiros que fizeram história da baleação nas Lajes do Pico». (continua)

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