Há 70 anos que Portugal não registava tantos mortos. Estamos em risco de extinção?
Demógrafos explicam o número recorde de óbitos com o envelhecimento da população.
Há quase 70 anos que não se registavam tantos óbitos em Portugal, num fenómeno de aumento da mortalidade que os especialistas associam ao envelhecimento da população.
Em 2018, o país contou 113 mil mortos, mais 3% que em 2017. No entanto, mais do que a subida anual, o número registado no ano passado só tinha sido superado, pela última vez, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) consultados pela TSF, em 1949, quando se chegou aos 117.499 óbitos.
A presidente da Associação Portuguesa de Demografia admite que não fica surpreendida com o aumento da mortalidade. Ana Fernandes recorda que o país tem cada vez mais idosos e, por muito que aumente a esperança de vida, chega a um ponto em que as pessoas morrem.
O aumento dos óbitos não se deve a um aumento da "propensão para morrer, pois, pelo contrário, falecemos cada vez mais tarde, mas porque a estrutura populacional está cada vez mais envelhecida, sendo normal que existam mais óbitos. Por isso é que corremos o risco de desaparecer enquanto população", refere a especialista.
Muito preocupada com a falta de nascimentos, Ana Fernandes explica que "os mais velhos vão morrendo, e vão morrendo cada vez mais porque cada vez há mais velhos". "No limite dos limites, numa situação ficcional limite, não havendo substituição de gerações, uma população tende a extinguir-se - e é isso que está a acontecer com Portugal, que está muito envelhecido, pelo que vamos encontrar taxas brutas de mortalidade e totais de óbitos cada vez maiores".
Em 2018, de acordo com o INE, nasceram 87.020 crianças em Portugal e morreram 113.000 pessoas, um saldo natural negativo (por cada cinco que morreram, só nasceram aproximadamente quatro) que se tem acumulado ao longo de anos, décadas, e não tem sido compensado pela imigração, num cenário que muito dificilmente irá alterar-se drasticamente nos próximos tempos.
Dos óbitos registados no ano passado, 59,3% foram de pessoas a partir dos 80 anos e, na última década, desceram as proporções de óbitos de pessoas com idades inferiores a 65 anos (-2,8 pontos percentuais) e dos 65 aos 79 anos (-4,2).
Recordando os números anteriores, do INE, Maria Filomena Mendes, ex-presidente da Associação Portuguesa de Demografia, também refere que a explicação para o recente aumento de óbitos parece simples.
Sublinhando o envelhecimento da população, Maria Filomena Mendes acredita que ainda há margem para vivermos, em média, mais tempo, mesmo que nas últimas décadas tenhamos tido avanços enormes com "uma mortalidade cada vez mais baixa e uma esperança de vida mais elevada, o que foi fazendo com que fossemos empurrando a idade da morte para idades cada vez mais tardias".
"Como, infelizmente, não sobrevivemos para sempre, há uma tendência nas populações envelhecidas para haver um maior número de óbitos, porque nos anos anteriores esses óbitos foram sendo adiados para anos posteriores", conclui a atual coordenadora do Laboratório de Demografia da Universidade de Évora.
in TSF
Há quase 70 anos que não se registavam tantos óbitos em Portugal, num fenómeno de aumento da mortalidade que os especialistas associam ao envelhecimento da população.
Em 2018, o país contou 113 mil mortos, mais 3% que em 2017. No entanto, mais do que a subida anual, o número registado no ano passado só tinha sido superado, pela última vez, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) consultados pela TSF, em 1949, quando se chegou aos 117.499 óbitos.
A presidente da Associação Portuguesa de Demografia admite que não fica surpreendida com o aumento da mortalidade. Ana Fernandes recorda que o país tem cada vez mais idosos e, por muito que aumente a esperança de vida, chega a um ponto em que as pessoas morrem.
O aumento dos óbitos não se deve a um aumento da "propensão para morrer, pois, pelo contrário, falecemos cada vez mais tarde, mas porque a estrutura populacional está cada vez mais envelhecida, sendo normal que existam mais óbitos. Por isso é que corremos o risco de desaparecer enquanto população", refere a especialista.
Muito preocupada com a falta de nascimentos, Ana Fernandes explica que "os mais velhos vão morrendo, e vão morrendo cada vez mais porque cada vez há mais velhos". "No limite dos limites, numa situação ficcional limite, não havendo substituição de gerações, uma população tende a extinguir-se - e é isso que está a acontecer com Portugal, que está muito envelhecido, pelo que vamos encontrar taxas brutas de mortalidade e totais de óbitos cada vez maiores".
Em 2018, de acordo com o INE, nasceram 87.020 crianças em Portugal e morreram 113.000 pessoas, um saldo natural negativo (por cada cinco que morreram, só nasceram aproximadamente quatro) que se tem acumulado ao longo de anos, décadas, e não tem sido compensado pela imigração, num cenário que muito dificilmente irá alterar-se drasticamente nos próximos tempos.
Dos óbitos registados no ano passado, 59,3% foram de pessoas a partir dos 80 anos e, na última década, desceram as proporções de óbitos de pessoas com idades inferiores a 65 anos (-2,8 pontos percentuais) e dos 65 aos 79 anos (-4,2).
Recordando os números anteriores, do INE, Maria Filomena Mendes, ex-presidente da Associação Portuguesa de Demografia, também refere que a explicação para o recente aumento de óbitos parece simples.
Sublinhando o envelhecimento da população, Maria Filomena Mendes acredita que ainda há margem para vivermos, em média, mais tempo, mesmo que nas últimas décadas tenhamos tido avanços enormes com "uma mortalidade cada vez mais baixa e uma esperança de vida mais elevada, o que foi fazendo com que fossemos empurrando a idade da morte para idades cada vez mais tardias".
"Como, infelizmente, não sobrevivemos para sempre, há uma tendência nas populações envelhecidas para haver um maior número de óbitos, porque nos anos anteriores esses óbitos foram sendo adiados para anos posteriores", conclui a atual coordenadora do Laboratório de Demografia da Universidade de Évora.
in TSF
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