domingo, 30 de junho de 2019

Números

Aos 20 anos, Alfa Pendular continua a ser um comboio rápido que anda devagar

Quando em 1999 o Alfa Pendular foi inaugurado, demorava três horas e meia entre Lisboa e o Porto. Vinte anos depois a modernização não foi concluída e a viagem faz-se em 2 horas e 50 minutos.

 Foi a 1 de Julho de 1999 que o Alfa Pendular iniciou o seu serviço regular entre Lisboa e o Porto. Tinha sido comprado para ligar as duas cidades em duas horas, ma estreava-se com um tempo de percurso de 3 horas e 30 minutos porque a linha não estava preparada para um comboio tão rápido. Um dia antes tinha sido realizada uma viagem inaugural só para convidados, com o então ministro do Equipamento, João Cravinho, a bordo. A composição cometeu a proeza de atingir por, breves momentos, os 204 km/hora – deixando extasiados alguns dos passageiros -, mas isso foi devido às características VIP da viagem porque no serviço comercial o Alfa não iria passar dos 160 km/hora.

A verdade é que tudo correu mal, apesar de a CP ter anunciado na altura que o novo comboio era “um marco na história dos Caminhos de Ferro portugueses” e que representava para o país “a entrada na alta velocidade”. O pendular era para ter sido inaugurado um ano antes, aquando da Expo 98, mas o fabricante italiano atrasou-se e a primeira das dez unidades só entrou ao serviço com um ano e dois meses de atraso. Na Expo 98, o máximo que se conseguiu foi ter um comboio, ainda não testado, estacionado na gare do Oriente para ser visitado.

Por parte da infra-estrutura, a linha do Norte estava no auge das obras de modernização com três frentes de obra que tornava exploração complicadíssima e obrigou a CP a uma “política de verdade”, colocando o comboio mais rápido entre Lisboa e Porto a demorar mais meia hora do que o velho Foguete dos anos 80.

As próprias obras na via férrea também já estavam atrasadas. O projecto de modernização, demasiado optimista, não contava que a infra-estrutura estivesse em tão mau estado (sobretudo na zona do Ribatejo e nas bacias do Mondego e do Vouga devido à proximidade dos rios), o que obrigou a uma intervenção mais profunda. E depois acontecera a decisão política de mandar erguer aquilo que então se designava como “o apeadeiro mais caro da Europa”. A gare do Oriente não estava nos planos de modernização da linha do Norte e a sua construção atrasou ainda mais o projecto.

Resultado: quatro anos depois de iniciadas as obras, já se tinham gasto perto de 200 milhões de contos (997,6 milhões de euros) e só 10% da linha estava modernizada. No entanto, em 1995, quando tinha sido lançada a empreitada, acreditava-se que tudo estaria terminado em... 2001!

in Público

Sem comentários: