sábado, 10 de setembro de 2011

Ponto de exclamação

Falta de ar condicionado na Biblioteca de Beja obriga frequentadores a usar abanico

Calor regressou em força à fornalha do Sul do país e com ele os protestos de quem deixou de poder aliar o prazer da leitura ao remanso, no que era um dos locais mais frescos da cidade.
Os leques lá estão, num dos balcões da recepção da Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja. É só levar e abanicar as caras afogueadas e os peitos transpirados enquanto se lê ou ouve música. O ar condicionado que costumava tornar o ambiente acolhedor nas tardes quentes de Verão, ou nos dias frios de Inverno, padece de problemas "estruturais".
O protesto mais notado surgiu no final de Julho, durante a última reunião da assembleia municipal. De dia, a temperatura tocou os 38 graus. À noite era tempo de sauna no auditório da biblioteca, onde se realizava a assembleia, com os deputados municipais a abanicarem-se com o que tinham à mão. Entre o arfar, o soprar e expressões em surdina, como "atão o ar condicionado não funciona?" ou "isto está uma fornalha e não ligam aquela porra?" - os eleitos pelo povo de Beja lá iam levantando e baixando os braços, na votação da extensa ordem de trabalhos da reunião.
Alguns deles questionaram o presidente da câmara, Jorge Pulido Valente (PS), e este foi célere em imputar as responsabilidades do incómodo sentido por todos. Alegou que a marcação da reunião não era decisão sua, mas do presidente da assembleia (CDU), que decidiu realizá-la naquelas condições quando havia lugares alternativos, com ar condicionado.
Desde esse incidente o ar condicionado continua por reparar e no final de Setembro vai decorrer a próxima reunião da assembleia municipal. A CDU levou o problema à última reunião do executivo municipal na quarta-feira, fazendo acompanhar a sua contestação de um leque igual aos que estão a ser oferecidos na biblioteca de Beja.
Pulido Valente garantiu que "não se distribuíam leques para suprir a falta do ar condicionado", embora dissesse que achava "piada ao sentido de humor da CDU". Indo à questão em concreto, o autarca disse que está a ser procurada uma solução "dentro do quadro de dificuldades" para restabelecer o ar condicionado.
O vereador Miguel Góis (PS) lembrou que os leques apareceram durante a realização do evento Palavras Andarilhas, em 2009, e que a avaria do ar condicionado "é um problema estrutural que vem da gestão da CDU." O vereador desta força política reagiu afirmando que o "problema era, sobretudo, de manutenção."
O PÚBLICO deslocou-se na quinta-feira à tarde à biblioteca e a temperatura ambiente batia nos 34 graus Celsius. A frequência de utilizadores resumia-se a uma dezena de pessoas. Os leques estavam à disposição de quem precisasse, mas era patente que o equipamento de refrigeração conseguia, pelo menos ontem, assegurar os serviços mínimos, no espaço de leitura do rés-do-chão. No primeiro andar, onde se localiza o auditório utilizado normalmente pela assembleia municipal, o ar fresco não se fazia sentir.
Bruno Candeias, estudante em férias, disse que "dava para aguentar", mas que já tinha apanhado ali "uma esturreira do caraças" há um mês. "Não dá para estar muito tempo", observou, para acrescentar um comentário: "É da crise".
A poucos metros de distância, Rafael Otero, reformado, ouvira os comentários do jovem e confirmou: "Há dias que não se pode aqui estar". Referindo-se aos leques, diz ter dúvidas de que alguém "possa ler o jornal ou mesmo um livro a abanicar-se."

in Público

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