quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Morrer de amores pelo Pico [1]

Golfinhos, uma normalidade no mar açoreano Já por várias vezes ouvi falar no apelo à terra, quase sempre referido às paixões que transbordam do peito dos africanos. Mas este apelo, vem de perto, dos Açores, da espectacular ilha do Pico.
Sobre as diversas visitas à ilha que fiz, com a família, escrevi uma história, que quero partilhar com todos.
Dada a dimensão do texto, vou divulgá-lo em episódios. Hoje segue o primeiro...


Finalmente férias! Quatrocentos e quarenta e sete quilómetros quadrados incrustados no meio do Atlântico, na chamada Ilha Montanha. A segunda maior dos Açores, a ilha do Pico, espera-nos, e nós vamos a correr para ela. Vamos ficar nas Lajes do Pico, um dos três concelhos existentes. Os outros dois são S. Roque e Madalena. De todos eles falarei mais tarde.

Eu e a Célia estamos “loucos” para partir. Várias hipóteses para a viagem, que será sempre partida em duas. Optámos por seguir até à Horta (na ilha do Faial), de avião. Viagem tranquila, com um pouco mais de duas horas de duração. O restante da ligação vai ser feita de barco. O Cruzeiro do Canal vai-nos levar durante trinta minutos até ao porto da Madalena. O nome do nosso transporte, faz-me lembrar Vitorino Nemésio e o seu livro Mau tempo no Canal (1944). O Canal que vai servir de estrada até ao Pico. Mas este açoriano, da Terceira, ficou também conhecido pelo Se bem me lembro, um monólogo televisivo inesquecível, que se prolongou entre 1969 e 1975.

O mar está a colaborar. Pouca ondulação e uma brisa suave fazem com que o Cruzeiro navegue com ligeireza. O cais da Madalena já aparece no horizonte e dois ilhéus preparam a nossa recepção; o em Pé e o Deitado, servem de porta de entrada, autênticos guardiães das águas límpidas do Canal. Verdadeiros ex-libris, fronteiros à vila, estes curiosos ilhéus, onde nidificam aves marinhas, apresentam-se fortemente degradados pela acção erosiva marinha, constituindo os resquícios de um cone vulcânico associado a erupções submarinas.
(continua)

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