terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Canto da Princesa

"Conta-me como foi" é uma série de ficção portuguesa que elegi como uma das minhas favoritas. Trata-se de uma adaptação, muito boa, na minha opinião, da série espanhola : “Cuentame como pasó”. Esta tem por objectivo retratar, de forma bem-humorada, o ambiente socio-económico, desde 1968, de uma família de classe média baixa.
Ainda não era nascida nessa altura, o meu ano é o de setenta e um, mas o que passam a cada domingo, faz-me voltar à minha infância.
O trabalho está tão bem feito que não foi esquecido qualquer pormenor.
Os utensílios da cozinha são facilmente identificados, os frascos da massa, do feijão, da farinha... São mesmo iguais aos que a minha mãe e avó usavam.
Lembro-me das rendas distribuídas por tudo o que era superfície plana. A casa de banho com o banquinho e o móvel branco com espelho pendurado na parede. Os miúdos a brincarem na rua até se cansarem. As roupas eram mesmo assim!
A maior aventura foi a compra de uma televisão e o sonho era um carro.
Curioso também o pensamento da altura. Só alguns exemplos.
Apenas os filhos podiam continuar a estudar, as filhas iam trabalhar até casarem, cedo. É engraçado, nem tinham opção de escolha. O divórcio não era permitido, a mulher não podia trabalhar fora de casa e o marido tinha de dar autorização se quisesse montar um negócio.
O homem era o chefe da casa, se bem que quem tinha a responsabilidade de gerir o dinheiro da casa era a mulher. Sair de casa, à noite, só com o marido!
Entendo melhor agora a vida dos meus pais e dos meus avós.
Não tenho saudades do que já vivi mas gosto muito de relembrar tempos que passaram.
Esta é sem dúvida uma excelente maneira de encerrar o fim-de-semana.
Aos domingos a seguir ao Gato Fedorento, a não perder!

Célia Paulino

1 comentário:

Mandrake disse...

É, sem dúvida, do melhor que actualmente é exibido pelas televisões portuguesas.
Inspirada no modelo castelhano da "Espanha Franquista", é bem mais do que uma adaptação do formato original, pois o nosso "Portugal Salazarista" está fielmente retratado.
Não só o "modus vivendi", mas, e aí de facto é um primor, a direcção artística (cenários, adereços, guarda-roupa, caracterização e penteados...) merece particular destaque.

É uma "aula viva" da nossa história recente e, o que ainda é mais importante, uma feliz alternativa aos degradantes e ridículos "concursos" que a SIC e a TVI acham por bem "ofertar", nas noite de domingo, aos seus tele-espectadores...

Trata-se de "serviço público", na verdadeira acepção da palavra.