Que Sonho!
A conversa começou há hora do café, numa pequena pausa no trabalho, quando no calendário se aproximavam as férias.
“Onde vais este ano?”, perguntou-me o John.
“Estava a pensar em ir dar uma volta a Portugal”.
“Já percebi que queres ir ver um jogo do Real Madrid, certo?”.
“John, Madrid é em Espanha, a capital do país”.
“Não é o no mesmo?”.
“Não, Espanha e Portugal são países vizinhos, mas são dois, independentes um do outro”.
“Isso também não interessa nada, eu cá este ano vou ao México”.
“Não sei se o teu amigo Presidente vai gostar muito dessa ideia”, ri-me eu.
“Então porquê?”.
“Porque ele quer correr com os mexicanos para a terra deles, se calhar não é uma boa ideia”.
“Acho muito bem, que grande presidente que nós temos, um dos melhores momentos da minha vida foi quando ele me pediu para atacarmos o Capitólio, depois daquele velho ter vigarizado as eleições”.
“Acho mesmo que isso aconteceu?”.
“Ele telefonar-me?”.
“Não, ter havido trafulhice nos resultados eleitorais”.
“George, claro que sim, se ele disse que sim, foi porque aconteceu mesmo”.
“Tu sabes que eu não ligo à política, mas não gosto muito dele”.
“Então porquê?”, perguntou-me o John, já muito exaltado.
“Porque tenho impressão que ele mente muitas vezes, repara que ele disse que se fosse presidente não tinha começado a guerra na Ucrânia, se fosse eleito resolvia a questão em 24 horas, mas já lá vão uns meses... e nada”.
“Mas a culpa não é dele, os russos e os ucranianos é que não se entendem, além dos vizinhos, da, da... como é que aquilo se chama?”.
“Europa”.
“Sim, isso, eles também não colaboram connosco”.
“Mas quando as coisas não dependem só de nós, não podemos afirmar que resolvemos a questão num piscar de olhos”.
“Já percebi que tu gostas é dos democratas”, gritou ele.
“Se quiseres continuar a conversar comigo, acalma-te”.
“Ok, ok”.
“Há dias o presidente afirmou que já tinha terminado com sete guerras, sem ser preciso cessar-fogo, mas que guerras foram essas?”.
“Achas que isso é importante?”.
“Não achas que o presidente do maior país do Mundo não deve mentir?”.
“Cá para mim não me faz diferença nenhuma, para mim ele pode mentir, desde que seja sempre eleito”.
“Mas ainda há pouco estavas a dizer que o anterior presidente falsificou os resultados das eleições, mas se for o atual a mentir já não te importas?”.
“Tu és um grande filho da ...”.
Só me lembro de ele me dar um grande soco, altura em que o meu sonho americano foi interrompido.
Acordei muito irritado, irritação que se estendeu por todo o dia, principalmente por não ter conseguido convencer o John de que este presidente é mentiroso.
Para a semana há mais irritações.

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